segunda-feira, 20 de julho de 2009

Exercício:”Baseado nestas palavras escreve um texto. 5 Minutos.”

Montanha
Vida
Grossa
Sangue
Morte
Seda
Chuva
Prado
Vida
Uvas
Flé (palavra inventada)


Subi aquela montanha que já conhecia tão bem, contemplei por um momento o prado que me circundava. Cheirava ainda a chuva e a uvas de Outono. Respirei fundo e o ar lembrou-me seda e deslizar pelo meu sangue, talvez o cheiro da vida a despontar. Andei mais à frente e pus-me a questionar um pouco de tudo. A morte, a vida, a grossa e colante fé em que tantos acreditam. Acho que devíamos todos ter um crer mais flexível, daí eu me considerar não uma pessoa de fé mais de flé.

Exercício:”Acrescenta o prefixo DES e encontra verbos que não existem.”

Descorrer, desacabar, desparar, desviver, desdançar.


Passo seguinte: “Utilizar seis frases conjugadas”

“Há muita gente que anda por aí a desviver”
“Só para não parecer mal prefiro dizer que descorro do que dizer que parei”
“Eu gostava que momentos perfeitos desacabassem”
“Disparei contra ele e por instinto ele desparou-se”

Passo seguinte: “Fazer um texto com as frases. 4 Minutos”

Há muita gente que anda por aí a desviver. Como ele, que perde o seu tempo a pensar no que poderia ter sido e não foi, crê até que momentos perfeitos desacabam. Diz inclusivamente, para não parecer mal, que descorre em vez de admitir que parou. Foi então que disparei contra ele e por instinto desparou-se. Afinal o instinto de qualquer animal nunca foi morrer.

Exercício:”Inspirado no texto “A Arte de ser Feliz” de Cecília Meireles completa a frase”. 5 Minutos.

Houve um tempo em que a minha janela se abria… só para mim. Depois foi-se fechando devagar e foi-se abrindo para outros. Eu fui espreitando, espreitando, espreitando, até que caí. Doeu-me mas depois subi. E abri-a outra vez devagar só para mim. E só depois para ti.

Exercício:”Inspirado no texto de abertura do livro “As Loucuras de Brooklyn” de Paul Auster, completa a frase”. 10 Minutos.

Eu andava à procura de um sítio sossegado para morrer… Pensei meter um anúncio no jornal mas pensei que ninguém me levaria a sério. Mas não interessava, há tanta gente por aí a tentar vender a mãe e que obtém respostas, que tinha eu a perder? Pus. Rapaz simples procura lugar sossegado para morrer. Assunto sério. 93 4456789.
Eram 9h03 da manhã, o telefone tocou. Já nem me lembrava do som dele, deve ter sido por isso que aquela estranha melodia me entrou ouvidos adentro directamente para o meu sonho. Fiquei confuso. O que estaria o Nokia Tune a fazer naquela nave espacial onde me encontrava? Despertei. Atendi, era uma rapariga. Disse-me que conhecia um lugar que ela conhecia que me devia interessar. Marcamos “Então as 4h no rossio”.
Às 4h cheguei, olhei para uma rapariga que parecia corresponder à descrição do que ela tinha feito de si. “Olá, és a Joana?”. Ela disse que não, mas depois riu-se “Sim, sou eu! Anda comigo!”. Que raio… tanto alegria para quem me vai mostrar um sítio para morrer, pensei. Fomos de carro em silêncio. Chegámos a um sítio realmente sossegado, muito próximo do que tinha imaginado. “Aqui está”. E riu-se outra vez. Achei absurdo. Um ultraje à minha dor, havia qualquer coisa nela que me despertava revolta contra a minha condição. Depois disse-me:” Queres ajuda?”, no momento não entendi a pergunta e perguntei-lhe para quê, “Para morrer!” disse ela, e riu-se de novo. Deu-me vontade de rir, não sei porquê. Mas disse-lhe que não. Ela continuou “Tens a certeza? Conheço óptimas formas de morrer!”. Achei absurdo de novo, mas já não me ofendi. Sentámo-nos, o sol punha-se naquele sítio bonito e sossegado, na verdade seria um desperdício usá-lo para aquele fim. Pensei que era capaz de viver ali para sempre. E foi assim que em busca de um lugar sossegado para morrer encontrei um lugar sossegado para viver.

Exercício:”Lembra-te duma personagem infantil da tua infância e descreve o reencontro com ela” 5 Minutos.

Heidi.
Já foi há tanto a última vez que te vi! Nem te reconheci hoje. Dantes andavas pelas montanhas, descalça, e eu nem entendia porquê. Afinal ouvia sempre a minha mãe “Não andes descalça pela casa!” e tu andavas assim na rua. Eu achava estranho mas não faz mal, já passou…
Entraste no café, vinhas calçadas. Ena! Vinhas toda aperaltada, alto decote de silicone, longas pernas, curvas acentuadas. Sentaste-te, disseste que o tempo te tinha feito assim. E eu aceitei. Felizmente a tua voz quase parecia a mesma, ou talvez fosse só a minha memória a proteger-me desta imagem que me artificializou a infância.

Exercício:”Em 5 minutos escrevam um texto com as seguintes expressões”

Encantamento inocente
Escola secundária
A doçura mais simples
Passear no campo
Aquele botão que já devia ter cosido mas nunca cheguei a fazê-lo


Andava ainda eu na escola secundária, naquela época de doçuras mais simples, quando perdi o botão deste casaco. Aquele botão que devia ter cosido mas que nunca cheguei a fazê-lo. Acho que o perdi a passear no campo, ou se calhar não foi nada disso mas é mais cómodo pensar assim. Tendemos a dar a erros banais do passado encantamentos inocentes, é mais cómodo assim também.

Exercício:” Escrevam uma palavra/expressão que cada um destes postais vos suscita.

(19 postais com imagens diversas). Agora em 5 minutos escrevam um texto seleccionando das 19 palavras 5”

Salinas
Grécia
Medo
A tradição já não é o que era
Perda
Pobreza
Relaxado
Antiguidade
Escuridão
Destruição
Mão a abanar
Irresponsabilidade
Espera
Dor
Bairro
Revolução
Alegria
Degradação


A revolução não se via, mas estava lá dentro de todos. Naquela escuridão em que se mergulha com a espera, esperavam todos na sala do hospital.
Os sentimentos divagavam entre o medo da perda e a esperança. Apareceu o médico com o raio-x na mão e informou: “Lamento… ele vai ter mesmo de arrancar os sisos”.